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Ausência do ensino de Libras nas escolas reflete no dia a dia de deficientes auditivos

Uma roda de pessoas em que todas elas fazem gestos seguidos com as mãos. Quem passa, observa a forma de se expressar. Alguns acham interessante, outros não entendem o significado dos movimentos. Mas o fato é que 14,45% da população do Distrito Federal se comunica dessa forma. São pessoas com deficiência auditiva. Entre elas a interação ocorre de forma natural, mas, ao tentar se expressar com os ouvintes, os surdos enfrentam dificuldades.

Apesar de políticas públicas que garantem direitos para deficientes auditivos, grande parte delas ainda está só no papel. Denise Ribeiro, professora de ensino especial, afirma que começou a aprender a Língua de Sinais Brasileira (Libras) por curiosidade. Depois que conheceu a comunicação com os surdos, ela passou a conviver mais com o público e a vivenciar os obstáculos que parte dessa população enfrenta no dia a dia.

“É difícil eles cobrarem os direitos sem conseguir se comunicar com as pessoas”, declara. “Eles não conseguem demonstrar o que querem. As pessoas não estão preparadas para lidar com os surdos”, explica.

Aluno de direito, Vinicius Silva, 24 anos, é deficiente auditivo desde os 2, depois que tomou um medicamento errado. Ele conta que tem dificuldade para utilizar serviços públicos, principalmente os de saúde. “Os médicos e atendentes geralmente têm dificuldades para me receber. Acabo fazendo leitura labial tentando demonstrar com gestos os sintomas. A dependência de um intérprete para a comunicação tira toda minha autonomia no momento da aprendizagem’’ relata Vinicius .

‘’A dependência de um intérprete para a comunicação tira toda minha autonomia no momento da aprendizagem‘’ – Vinicius Silva

Falta de acessibilidade

Brenda Rodrigues, 25 anos, trabalha com libras há oito anos. Ela afirma que os surdos sentem dificuldade em acessar serviços básicos. “Eles não vivem o ‘eu vou’. É sempre ‘nós vamos’, o surdo e o intérprete. E, hoje em dia, todo mundo trabalha. É difícil ter alguém com disponível a todo momento”, esclarece. Na avaliação da intérprete, existe ainda uma complicação em relação a atendimentos de plano de saúde e bancos, porque a maioria das demandas é resolvida pelo telefone. “O surdo não consegue ligar e precisa de um intérprete para fazer isso para ele”, explica.

Dyones Silva é interprete há oito anos. Na visão dele, um bom método para reverter esses problemas seria a implantação de línguas de sinais nos anos iniciais da escola. “As crianças estudam inglês, mas não têm nenhum contato com o segundo idioma oficial do Brasil (libras)”, considera. Para ele, as leis não são fiscalizadas e iss

o faz com que não sejam cumpridas. “As leis são lindas no papel, mas na prática ninguém vê”, declara.

 

Tanto Dyones quanto Brenda acreditam que se as políticas públicas fossem bem implantadas, a realidade seria diferente. “As pessoas acham que o serviço de intérprete não tem demanda. Porém, existem muitos surdos no Brasil. Se eles soubessem que os serviços públicos disponibilizam intérprete, com certeza fariam mais uso deles”, esclarece Bianca.

Falta de preparo

Diretor do Centro de Educacional de Audição e Linguagem Luduvico Pavoni (Ceal), José Rinaldi reforça que a sociedade em geral não está preparada para atender a população surda.  Segundo ele, os intérpretes nem sempre resolvem o problema, pois não oferecem autonomia aos deficientes. “O intérprete precisa saber libras e entender sobre o assunto que vai interpretar. Isso torna o trabalho mais difícil”, destaca.

No ponto de vista de Rinaldi, não adianta apenas ensinar libras, pois é preciso prática e vivência da língua. “Não é uma realidade apenas do deficiente, envolve toda a família”, ressalta. “Só estudar a gramática não adianta. É preciso diálogo, prática. Língua não se ensina, se vive”, acrescenta.

“Língua não se ensina, se vive” – José Rinaldi

 

Por Amanda Meirelis e Samara Schwingel

Sob supervisão de Isa Stacciarini