Leia mais

Mais lidas

Útimas notícias

Doce amargo: crianças vendem pipoca no semáforo na capital; uma história de trabalho infantil em 49 segundos

“A gente precisa levar dinheiro pra casa”, diz o mais velho. São 16h. Já se foram três horas de trabalho e faltam mais duas. Os irmãos estão acompanhados do Pai Leandro*, que usa uma blusa que pede a paz no trânsito. Para a família, a indiferença da maioria das pessoas que passam por ali é mais do que notada. A correria é por um corredor de retrovisores cercado de barulhos de motores. O dia é assim. Deixam as pipocas sabendo que na grande maioria das vezes vão ter que buscá-las sem nenhum retorno, nem de moeda nem de olhares. A ajuda dos filhos é essencial para evitar com que dê tempo de resgatar todas as pipocas penduradas nos carros. E os meninos com sorrisos tímidos testemunham: “Quanto mais ajuda para ele (o pai), melhor”. Mas Rafael* deixa a timidez de lado para relatar os maus tratos que recebe todos os dias dos motoristas “Tem gente que grita com a gente. São grossos. Falam que não é para colocar no carro deles. Acham que somos qualquer um” Gabriel*. ““Isso quando não é pior”, completa o irmão.

Bilhete é grampeado sobre a pipoca para sensibilizar público. Foto: Gabriela Bernardes

A realidade de Gabriel e Rafael acontece no centro da capital do país a apenas alguns metros de distância do Ministério do Trabalho. Se venderem todas as pipocas ou não, o caminho para casa é longo. Serão 42 km até chegar em casa na cidade de Águas Lindas (GO).  O equivalente a uma hora de transporte público. De domingo a domingo, é assim. A diferença é que de segunda a sexta os irmãos precisam encontrar ânimo para ir à escola pública aonde estudam. Nem sempre as horas de trabalho refletem no faturamento esperado. “Quase sempre não pagam as contas”, afirma Leandro. A compra das pipocas é feita no atacado. Cada saco fechado custa em torno de R$ 14. Eles ldizem que o lucro de um dia inteiro de trabalho é em torno de R$ 20 por dia.

Conscientização

Procuradora do MPT: “é preciso conscientizar o professor”. Foto: OAB/DF

 

Para a procuradora do Ministério Público do Trabalho (MPT), Ana Maria Villa Real, que atua contra o trabalho infantil, é necessário não só tirar a criança da rua mas dar um apoio pra ela. “A gente tem que trabalhar aquela criança, os pais, ver o que está faltando naquela casa, se é um beneficio de renda, ver se a criança está na escola”.

Procuradora explica que é preciso haver uma rede de apoio a essas crianças

Um dos grandes aliados para a prevenção do trabalho infantil são os professores das escolas. “É conscientizar o professor porque ele é um dos principais protagonistas na prevenção. Ele tá ali todos os dias com o aluno, sabe dos problemas. E ele tem muitas condições de saber e ajudar”, afirma Ana Maria Villa Real.

A psicóloga Daniela Klavdianos adverte que o cansaço leva um prejuízo no desempenho escolar. “Isso leva, às vezes, até a um quadro de fadiga extrema (…) A criança começa a ser um responsável pela renda familiar, começa a emocionalmente ter a responsabilidade de auxiliar na renda. Começa a ser cobrada de um desempenho de venda e isso gera ansiedade, stress e dependendo da família pode gerar até medo”.

A procuradora explica que uma das grandes causas para não conseguirem dar o apoio necessário para as crianças é crise na assistência social “O problema que todo mundo esbarra é na assistência social. Não tem uma cesta básica para oferecer. Eles estão em greve tem mais de 50 dias então não tem nem cadastramento único. Não tem nada”.  A categoria reivindica o aumento salarial que foi concedido em 2013.

Sandálias maiores que os pés e trabalho das 08h ás 18h. 

Para diminuir o diesel, o presidente Michel Temer anunciou um corte de verbas em vários setores incluindo a fiscalização do trabalho infantil.  A capital do país é a única das 27 unidades da federação que praticamente não reduziu a incidência de trabalho infantil entre 2004 e 2015. O número, nesse intervalo, passou de 18.487 para 18.497, conforme levantamento da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).

Leia mais sobre o Distrito Federal

Por Gabriela Bernardes

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira