Projeto de leitura criado por cobrador de ônibus completa 15 anos no DF com 60 mil livros

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Antônio da Conceição Ferreira deixou o ofício de cobrador para virar coordenador do projeto “Cultura no Ônibus”. Foto: Site Cultura no Ônibus

Tudo começou em 2003, quando o então cobrador de ônibus, Antônio da Conceição Ferreira, resolveu compartilhar o livro “Capitães de Areia”, de Jorge Amado, com os passageiros da linha circular em Sobradinho I e II . Hoje, aos 46 anos de idade, ele relembra de quando deixava sob a mesa de trabalho dele a obra. Esperava que os passageiros a folheassem. Depois, passou a levar uma caixa cheia de livros. Ao primeiro interessado, Antônio oferecia o título para a leitura. Ao final, emprestava a produção literária ao leitor para que ele continuasse usufruindo dela mesmo fora do veículo. Foi a partir da iniciativa individual do cobrador que surgiu o projeto “Cultura no Ônibus”. Antônio Ferreira passou a ter tantos doadores e simpatizantes da iniciativa que os livros se tornaram centenas e milhares em estantes improvisadas dentro e fora dos ônibus. Ele comemora o resultado de manter hoje um acervo impressionante de 60 mil títulos para passageiros do transporte público.

Os livros estão espalhados em 10 pontos de coleta, incluindo bibliotecas públicas em Sobradinho, Santa Maria, Cruzeiro, e Planaltina. Para retirar o livro, não é necessária nenhuma burocracia ou cadastro. Os livros sempre voltam. Com a ação, Antônio Ferreira deixou a função de cobrador para se dedicar somente a literatura. Ele exerce a função de coordenador do projeto e é responsável pelas articulações nos meios externos, por meio de palestras, reposições de livros e contação de histórias.

Páginas de vida
Embora não tivesse muito estímulo para a leitura, durante a vida escolar Antônio do Livro, como é conhecido, sempre gostou de apreciar exemplares. O interesse pela leitura é resultado da vontade de estudar, de passar o ensinamento ao filho e, à sociedade.. No início do projeto, os viajantes acharam a ideia inovadora e criativa, pois tinham acesso à educação durante o trajeto de ida e volta do trabalho.
Mas, depois de mais de uma década, muitos ajudam no crescimento da iniciativa. “O propósito dos passageiros é expandir o projeto. Eles são responsáveis por dar oportunidade para mais pessoas. Com isso, existe a luta social para que o projeto chegue em todo o DF e entorno”, destaca Antônio.
Graças ao projeto, ele tem acesso ao ensino superior. “Estou cursando administração, além de ter feito um semestre de letras e ter participado como aluno especial da turma de biblioteconomia”, conta. Além disso, o ex-cobrador ressalta que a  leitura e a iniciativa lhe ajudaram a superar a vergonha em público. “Eu perdi 90% da timidez”, destaca.
Desde 2015, a viação Piracicabana promove uma parceria com o programa. A empresa disponibiliza a frota total de 525 veículos para que a obras sejam expostas no interior deles. E implanta estandes que funcionam como pontos de coleta. Porém, a cooperação vai além. Inspirado no projeto de Brasília, idealizadores de outros estados implementaram o serviço em cidades como Uberaba (MG), Petrópolis (RJ), Mogi das Cruzes (SP), Praia Grande (SP) e São José dos Campos (SP). Quem quiser conhecer mais sobre o projeto pode acessar a página http://www.culturanoonibus.com.br.

Pontos de coleta

Atualmente, o Cultura no Ônibus possui no acervo cerca de 60 mil obras e está localizado em diversos pontos de coleta, como:

Anexo Palácio do Buriti

Biblioteca Escolar Comunitária Espaço Rui Barbosa, em Sobradinho

Biblioteca Monteiro Lobato, em Santa Maria

Biblioteca Pública do Cruzeiro

Biblioteca Pública de Planaltina

Biblioteca Pública de Sobradinho

Faculdade Projeção Sobradinho

Instituto Federal de Brasília (IFB), na região de Planaltina

Palácio da Justiça – Ministério da Justiça

Universidade de Brasília

Por João Paulo de Brito

Sob supervisão de Isa Stacciarini e Luiz Claudio Ferreira

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