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Sapo: um detalhe especial da natureza

“Sapo cururu na beira do rio, quando o sapo grita, ô maninha, é porque tem frio…; o sapo que mora na lagoa, não tem rabinho nem orelha… O sapo não lava o pé, não lava porque não quer, ele mora na lagoa não lava o pé porque não quer…” Muitas cantigas como estas permearam a nossa infância e ainda são repetidas pelas crianças de hoje. E não há quem não se lembre da história do sapo que virou príncipe. Contos de fada à parte, o fato é que muita gente tem medo e nojo desse animal e a primeira coisa que pensa ao ver um é matar ou jogar sal nele.

Pela importância que os anfíbios têm para o meio ambiente, o sapo foi escolhido para figurar numa dinâmica que abriu seis capacitações para agentes comunitários de saúde (ACSs) e de endemias (ACEs), que a Corumbá Concessões realizou em municípios de influência da UHE Corumbá IV, no final do ano passado. A dinâmica teve como objetivo descontrair e levar os 291 participantes a uma reflexão, e foi conduzida pela bióloga Danúbia Carrilho. Ela pediu aos participantes que “conversassem” com um sapinho de pelúcia, o Fernando, que passou de mão em mão e recebeu as reações mais diversas, desde declarações de carinho, sentimentos de nojo, repulsa e medo, e até mesmo pontapé.

A proposta de compartilhamento dos sentimentos foi uma oportunidade para os agentes de saúde, que de uma forma ou de outra trabalham próximos à natureza, repensassem a sua interação com os animais. Jane Peixoto, ACS de Silvânia destacou-se pela forma como trata e cuida dos sapos que frequentam a chácara e que, segundo ela, “fazem parte da família”. Ela conta que diariamente, há 12 anos, acende as luzes do quintal para atrair os insetos e os sapinhos que chegam para se alimentar e fazer a festa. “Por onde passo em visita às famílias, eu incentivo as pessoas a tratarem bem os animais. ”

Se para muitos esses animais são feios e asquerosos, para Jane, eles são bichos de estimação: “Minhas colegas riram de mim quando eu disse que ia dar ração para os sapos, pois achava que nem sempre a mesa estava farta de insetos e eu não queria que eles fossem embora sem janta”. Segundo ela, os “meninos” são mansos, ficam em volta dela, pulam em seu colo. “Eu converso com eles e cada um tem um nome. Tem o Zequinha, o Zezão, o Nanin…”. A paixão da família por animais é tamanha, que dentro da teoria semelhante atrair semelhante, a sua filha se casou com um pesquisador colombiano que estuda sapos.

Vladimir dos Santos, agente de saúde de Silvânia, é outro apaixonado por anfíbios. Ele contou que tem um cururu em sua horta, o Tião, que faz o controle biológico de pragas. “A hortaliças estão sempre sem lagartas por causa do cururuzão. Diariamente dou bom dia para o Tião, eu gosto demais dele”, disse com um entusiasmo de criança.

Alguns participantes admitiram que matam sapos a paulada ou com sal. No final da dinâmica, Danúbia explicou sobre a importância do anfíbio para o ecossistema. “O sapo é um animal dócil e inofensivo, tem uma pele supersensível e o contato com o sal provoca um sofrimento grande e a morte. No entanto, só a presença desses anfíbios num lago ou riacho é a garantia da boa qualidade da água, pois comem grande quantidade de insetos e aracnídeos, muitos deles prejudiciais aos humanos, como escorpião e aranhas”, disse. Ao final da dinâmica, muitos agentes disseram que passaram a ver o animal com outro olhar, pelo serviço que eles prestam à natureza.

Ana Guaranys