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Wilder Santos – “Frutas e verduras mais baratas e de qualidade”

Há 50 anos, as Centrais de Abastecimento do Distrito Federal (Ceasa) têm carregado a tradição de oferecer à população frutas e verduras frescas com qualidade e preço até 20% mais barato que os praticados no mercado. A fórmula para esse desempenho é a mesma ao longo de décadas: dedicação do homem do campo e uma administração pautada em fiscalização e orientação dos produtores rurais.
“Abastecemos o mercado local com produtos hortifrutigranjeiros de qualidade. Hoje, com menos agrotóxicos. E também conseguimos manter o equilíbrio de preços praticados”, garante Wilder Santos, o novo presidente da Ceasa, em entrevista exclusiva à Agência Brasília.
O gestor também conta os planos para o futuro. Comenta os investimentos em manutenção dos últimos quatro meses, como o asfalto e a nova iluminação pública do local e, diz que planeja uma versão itinerante das feiras nas cidades mais carentes. “A ideia é levar pelo menos 25 produtos, ao valor de R$ 3 o quilo, para comunidades mais carentes, onde existem mais famílias em situação de vulnerabilidade”, explica.

Qual a função da Ceasa?
A finalidade da Ceasa, em qualquer parte do Brasil, é ser um ponto de encontro de todos os produtores rurais para que possam comercializar os produtos vindos diretamente da roça. Esse é o foco principal. O segundo ponto é o equilíbrio de preços. Quando se concentra todos os produtos num único local, numa central, você também promove esse equilíbrio. Para organizar a produção e a distribuição desses alimentos na região é importante também olhar para a questão dos preços.

Vocês regulam o valor dos produtos?
Nós temos aqui um setor de estatística, com técnicos agrícolas e um engenheiro agrônomo. Então, por meio das notas fiscais, que entram na Ceasa, conseguimos demonstrar o volume e valores do que é comercializado. Todos os dias, entre 6h e 7h da manhã, nossos técnicos andam no mercado e fazem uma pesquisa de preço. Esses valores são balizadores, inclusive, para as políticas públicas do Governo. Tornamos toda essa pesquisa pública porque divulgamos os preços praticados no site da Ceasa. Então, acabam servindo também como referência para o mercado. Porque você fica sabendo quanto que foi comercializado, por exemplo, a caixa de tomate em um determinado dia da semana. Assim os donos de supermercado, de varejões, calculam seus custos tomando por base os valores comercializados aqui.

O preço na Ceasa é realmente mais barato?
Com certeza. Em média, é 18% a 20% mais barato que no supermercado tradicional. Mas o que tem de ser analisado não é apenas a questão do preço, mas, sim, da qualidade. Porque aqui a dona de casa compra direto do produtor, verduras, hortaliças e frutas de primeira qualidade. Produtos que foram menos manuseados. A troca de caixa, o transporte e até o processo de seleção para as prateleiras estragam muito o produto. Quanto menos transitar, melhor é a qualidade final dele.

A Ceasa-DF tem um dos maiores espaços de exposição do Brasil. Perdemos apenas para a Ceagesp, em São Paulo. Temos 8 mil metros quadrados com mais de 400 produtores cadastrados. Num sábado, a gente comercializa uma média de 30 toneladas de produtos, contabilizando tudo, frutas, verduras e hortaliças.

A produção de hortifruti no DF é autossuficiente? Quais produtos produzimos que atendem a 100% da nossa demanda?
Morangos. A região de Brazlândia até exporta morangos para outros estados. Mas muita coisa ainda vem de fora. São Paulo é um grande abastecedor do DF. Abacaxi e melão chegam do Nordeste, basicamente da Bahia e Piauí. Também compramos muito abacaxi da região do Tocantins. Do Goiás, recebemos as melancias e verduras. De Minas Gerais, tomate e folhosas.

A comercialização na Ceasa é diária?
O forte aqui é a venda no atacado, na segunda e na quinta-feira. Porém, estamos funcionando todos os dias pela manhã. Na terça, na quarta e na sexta, temos um comércio um pouco mais fraco, que vem ganhando corpo. A cada dia, mais e mais produtores chegam. No sábado, temos o tradicional varejão, um dos maiores do Brasil. Abrimos às 5h e seguimos até às 14h com as vendas por quilo.

Nesse volume todo de comércio, muitas frutas e verduras devem estragar. A Ceasa faz algo para diminuir o desperdício?
Tudo é uma questão de educação. O desperdício não é apenas dentro na Ceasa, começa lá na colheita. Ali, você começa a selecionar aquilo que não tem condições de comercializar. Na hora de embalar e, depois, no transporte, também temos mais desperdício. Na troca de uma caixa para outra, mais outro tanto de produto é descartado. Saindo daqui da Ceasa, já na casa do consumidor, a dona de casa também desperdiça. Ou seja, é uma cadeia grande. Aqui no Ceasa, temos um programa de Desperdício Zero.

Fazemos campanhas sistemáticas para orientar o produtor desde a colheita até a forma de manipular e expor os produtos. Ao final de cada feira, eles verificam o que não foi comercializado e doam para o Banco de Alimentos da Ceasa. Lá, a gente faz uma nova seleção e verificamos o que podemos repassar para instituições assistenciais cadastradas conosco.

Qualquer entidade social pode receber essas doações da Ceasa?
Hoje, temos 130 entidades que participam do programa Desperdício Zero. Entre elas, creches, comunidades terapêuticas, que cuidam dos dependentes químicos, lar para idosos…Todas são cadastradas com a gente e recebem tanto do Desperdício Zero quanto do Banco de Alimentos. Para você ter uma ideia desse trabalho, só no mês de março, recebemos 22.306 toneladas de frutas, verduras e hortaliças e conseguimos atender quase 32 mil pessoas. O que a gente faz com essas entidades é dar uma complementação alimentar. Temos uma nutricionista e uma assistente social que visitam cada entidade, que se candidatam para classificar se ela pode ou não participar do nosso programa. Porque só fazemos doações para aquelas instituições que processam o alimento. Depois, seguimos orientando essas entidades com cursos de capacitação e manipulação dos alimentos para que haja o maior aproveitamento dessas doações, evitando ao máximo o desperdício.

Como o consumidor pode ajudar nesse processo de combate ao desperdício?
As pessoas precisam deixar de lado essa ideia de que precisam pegar e apertar as frutas para comprar. Pegam o tomate, apertam. Pegam a pera, o caqui e apertam. No final, tudo isto vai para o lixo. Não pode. Basta observar com os olhos e selecionar apenas aquilo que vai levar para casa. Quando as pessoas ficam nesse processo de seleção manual, elas acabam estragando o produto.

Qualquer produtor rural pode expor e vender seus produtos na Ceasa?
Não. É necessário que o produtor busque uma declaração junto à Emater da sua região. Em seguida, ele vem à Ceasa com essa declaração, documentos pessoais, os documentos da propriedade, onde está produzindo e faz seu cadastro. Hoje, o nosso espaço é pequeno para a quantidade de produtores do DF e Entorno. Então, temos uma fila de espera de aproximadamente 60 pessoas. Só para você ter uma ideia, atualmente, dispomos de 468 espaços de comercialização e todos estão ocupados. É claro que tem um período de produção lá na roça, que o agricultor para de vir à feira, então aguarda 6 a 7 meses, para voltar a comercializar. Nessas vacâncias, ocupamos os espaços com as pessoas, que estão na fila. Neste mês de maio, conseguimos colocar oito novos produtores.

Os orgânicos têm ganhado espaço nas prateleiras dos supermercados. Na Ceasa, isto também tem acontecido?
Está crescendo, sim. Tanto a demanda quanto a oferta. Aqui no Pavilhão do Produtor a cada dia temos mais produtos orgânicos. Além disto, temos o espaço da agricultura familiar, que é bem forte no sábado com a venda a varejo. Lá, a oferta de orgânicos já está meio a meio. Temos ainda uma cooperativa que toca o Mercado Orgânico, onde 43 produtores trabalham exclusivamente com esse tipo de produção.

Quais os principais problemas hoje da Ceasa?
A situação mais delicada aqui é a física. Toda essa estrutura é de 1972. Ou seja, estamos quase com 50 anos. É algo muito antigo e as dificuldades acabam sendo inúmeras. Desde a água potável, até o tratamento e descarte dos resíduos, aos telhados. Precisamos modernizar tudo isso. Nosso departamento de engenharia já tem feito estudos para apontar as formas mais viáveis e sustentáveis, com novas tecnologias, para recuperar e aproveitar melhor os espaços que dispomos. Hoje, também, não há mais espaço para a construção de novos pavilhões. O governador Ibaneis Rocha nos deu uma missão de pensar como crescer a Ceasa ou até mesmo construir outros pontos de apoio em outras regiões administrativas. Por isso, estamos em busca de uma outra área para ampliar nossa atuação.

A população do DF vem crescendo muito e ela carece de abastecimento. Demanda tem, oferta também, porque muitos produtores estão de fora e querem entrar. Então, a ampliação da Ceasa acaba sendo uma necessidade urgente para pensarmos.

Já se tem uma ideia de onde seria essa nova sede da Ceasa?
Estamos buscando um local próximo do eixo da BR-060, já que todos os indicadores apontam para lá como o novo pólo logístico do DF. Entendo que ali é um ponto que facilita tanto a chegada do produto como a sua distribuição. Outra proposta, que está bem avançada e que queremos implementar até o final do ano, é o projeto Ceasa nas Cidades. A ideia é levar pelo menos 25 produtos, ao valor de R$ 3, o quilo, para comunidades mais carentes, onde existem mais famílias em situação de vulnerabilidade. Já estamos mapeando esses pontos. Queremos incentivar e aumentar o consumo de frutas, verduras e legumes nessa parcela da população.

O que a atual gestão tem feito para amenizar esse desgaste estrutural da Ceasa?
Em parceria com a Novacap, há 4 meses, estamos recuperando o asfalto de toda a área. O que é fundamental porque as passagens precisam estar bem niveladas para facilitar o transporte das cargas. Está demorando um pouco para concluir esse asfalto, porque é um trabalho que a gente só consegue tocar nas terças e nas quartas, já que precisamos de áreas mais livres e com menos movimento. Também estamos trocando toda a iluminação para lâmpadas de LED, visando uma maior economia de energia elétrica e um melhor aproveitamento luminoso de todo o espaço.

RENATA MOURA, DA AGÊNCIA BRASÍLIA