A popularidade dos bebês reborn — bonecas hiper-realistas que imitam recém-nascidos — tem gerado debates sobre os limites entre o colecionismo saudável e o comportamento compulsivo. O psicólogo e professor do curso de Psicologia do Centro Universitário UNICEPLAC, Paulo Henrique Souza Roberto, alerta que, embora o uso dessas bonecas possa ter função terapêutica, há casos em que o vínculo ultrapassa o limite do saudável.
Para o especialista, o contexto é essencial. “Enquanto psicanalista, o desejo por bonecas não me assusta. O que me preocupa é quando o afeto entra na lógica do consumo”, explica. Segundo ele, em uma sociedade marcada pela pressa e pelo cansaço, as pessoas buscam formas de preencher vazios emocionais. “Os bebês de plástico não demandam, não choram, não pedem o que não podemos dar. Atendem ao que não conseguimos oferecer porque estamos consumidos por outras exigências”.
Função terapêutica e vínculo emocional
O psicólogo destaca que, em alguns casos, o uso das bonecas pode ajudar pessoas a lidarem com traumas, solidão ou luto. Ele recorre à teoria do objeto transicional, proposta por Donald Winnicott: “Na infância, certos objetos ajudam a lidar com a ausência dos pais. Na vida adulta, esses ‘objetos de segurança’ podem assumir formas simbólicas — lugares, memórias, ou até bonecas”.
De acordo com o professor Paulo, o problema surge quando o apego compromete a rotina ou o bem-estar da pessoa. “É preciso observar sinais como isolamento social, negligência de responsabilidades e sofrimento emocional evidente”, afirma. Em vez de críticas, ele recomenda escuta e acolhimento. “Tratar o vínculo como algo ‘infantil’ ou ‘estranho’ pode aumentar o isolamento. O importante é compreender a motivação por trás da relação com a boneca”.