Em reunião extraordinária remota da Comissão de Educação, Saúde e Cultura (CESC) da Câmara Legislativa do Distrito Federal na tarde desta quarta-feira (22), o secretário da Casa Civil do DF, João Valdetário Monteiro, descartou a volta às aulas nas escolas cívico-militares do DF na próxima segunda-feira (27). Valdetário apresentou aos parlamentares ofício do governador Ibaneis Rocha em que ele solicita ao secretário de Educação, João Passos, a elaboração de um plano, no prazo de dez dias, a partir de hoje (22), para efetivar a reabertura das escolas do DF, começando pelo reinício das atividades das turmas de Ensino Médio. “O governador não fará a reabertura de qualquer jeito, ela será precedida por um estudo pormenorizado”, afirmou. “Os pais podem ficar tranquilos”, garantiu, ao enfatizar que a conduta de Ibaneis, desde o início da pandemia do coronavírus, tem sido amparada por dados concretos.
Ele descartou ainda a interferência do presidente Bolsonaro nessa questão: “Não há pressão de presidente da República que faça o governador Ibaneis tomar uma atitude abrupta, sem embasamento científico”.
O presidente da comissão, deputado Jorge Vianna (Podemos), esclareceu que a reunião foi convocada especialmente porque vários pais de alunos procuraram os parlamentares “aflitos” e “muito preocupados” com a possibilidade de reabertura na próxima semana. Por vídeo conferência, diversos pais participaram do encontro desta tarde, como Tiago Pessoa, pai de aluno do Colégio Militar Dom Pedro II. “Não tem nenhum estudo que comprove a segurança das nossas crianças nesse retorno às aulas”, afirmou, ao considerar que as escolas não estão preparadas, por exemplo, para acompanhar o uso correto de máscaras de proteção e a higienização das mãos de crianças pequenas.
“Nosso desespero, enquanto pais, se justifica porque nós ficamos sabendo, pela mídia, de uma conversa entre o governador e o presidente da República sobre a testagem do comportamento do vírus no ambiente escolar a partir da realidade das escolas militares e militarizadas do DF”, declarou a representante de pais na reunião, Alessandra Freire. Mãe de aluno do Colégio Militar de Brasília (CMB), ela destacou que, em outros países, somente após o declínio na curva de contaminação é que começaram, de forma organizada, a abrir as escolas.
Freire questionou o GDF sobre as medidas de proteção, ao considerar que as máscaras comuns só podem ser usadas, com segurança, por duas horas, sendo que os estudantes permanecem cerca de seis horas no colégio, ou seja, seriam necessárias três máscaras por dia para cada aluno. Nesse raciocínio, ela destacou que a comunidade escolar do CMB tem cerca de três mil pessoas e, portanto, precisaria de nove mil máscaras por dia. Ela quer saber como serão operacionalizadas medidas práticas de segurança como esta em dez dias. Freire também protestou contra a falta de isonomia de tratamento entre todos os estudantes do DF diante da escolha aleatória de algumas escolas. “Nossos filhos não são cobaias”, alegou.
Também mãe de aluno do CMB, Joana Lopes reforçou a tensão dos pais. “Sou esposa de militar, mas nossos filhos são civis e são crianças”, argumentou. Grávida, ela indagou sobre as medidas protetivas às pessoas que convivem com os alunos, vetores da doença. Para Lopes, a escola deveria ser o último espaço a adotar a reabertura, posição corroborada por outras mães de alunos que participaram da reunião. Também se manifestaram contrários ao retorno às aulas na próxima semana os representantes do Sindicato dos Professores (SINPRO), Rosilene Correa; da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Alexandra Moreschi e Fabrício Reis, e do Sindicato dos Professores em Estabelecimentos Particulares, Alexandre Veloso.
Participação – O líder do governo na CLDF, deputado Claudio Abrantes (PDT), considerou “importantíssima” a participação dos pais e entidades na reunião de hoje e defendeu a conduta do governador desde o início da crise. Lembrou que Ibaneis foi o primeiro governador do País a decretar a suspensão das aulas, entre outras medidas restritivas, o que levou o DF a apresentar um dos menores índices de letalidade do País neste momento da pandemia. Disse ainda que o governador tem observado boas experiências no trato com a crise, ao mencionar o modelo alemão na reabertura das escolas. Nesse sentido, o deputado Delmasso (Republicanos) referendou que o governador não tomaria uma atitude irresponsável. Por outro lado, o parlamentar ponderou que é necessário pensar sobre uma fase de transição, isto é, sair do isolamento social horizontal para o intermitente até chegar ao isolamento vertical.
Por sua vez, a deputada Arlete Sampaio (PT) lembrou que ontem (21) foram iniciados os testes em massa para detecção do Covid-19 no DF. Portanto, ela considera precoce o início de redução das restrições neste momento. Já o deputado Delegado Fernando Fernandes (PROS) reforçou o compromisso dos parlamentares no acompanhamento da pandemia.
Tanto o presidente da comissão, deputado Jorge Vianna, quanto o deputado Prof. Reginaldo Veras (PDT) defenderam a participação do colegiado, dos pais de alunos e das entidades representativas dos professores e da sociedade civil nas discussões sobre a reabertura das escolas junto ao GDF.
Franci Moraes
Foto: Reprodução TV/Web CLDF
Núcleo de Jornalismo – Câmara Legislativa