Publicado na revista Avaliação Psicológica, Volume 23, Número 1, 2024
Um estudo recente conduzido por pesquisadoras brasileiras, incluindo Angela Mágda Rodrigues Virgolim, da Universidade de Brasília (UnB) e membro do Centro de Pesquisa e Análises Heráclito (CPAH), reafirma a relevância do teste do Desenho da Figura Humana (DFH) como ferramenta para avaliar o desenvolvimento cognitivo de crianças. Publicado na revista Avaliação Psicológica (Volume 23, Número 1, 2024), o estudo analisou a validade e precisão do DFH, além de investigar a presença do chamado “efeito Flynn”, o aumento nas pontuações de testes de inteligência ao longo do tempo.
Liderado por Solange Muglia Wechsler, da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), o estudo comparou o desempenho de 3.126 crianças em 2018 com 3.340 crianças em 2003, todas com idades entre 5 e 12 anos, de diversas regiões do Brasil. A pesquisa utilizou o sistema de correção de Wechsler (DFH-III), que combina métodos consagrados como os de Goodenough, Koppitz e Naglieri, para avaliar a presença de itens específicos nos desenhos de figuras masculinas e femininas.
Validade e Precisão Confirmadas
Os resultados indicaram que o DFH mantém alta precisão (0,88) e validade, com ganhos significativos nas pontuações conforme a idade das crianças, refletindo o desenvolvimento cognitivo. A idade foi o fator de maior impacto, com crianças mais velhas incluindo mais detalhes nos desenhos. Variáveis como sexo, tipo de figura desenhada (homem ou mulher) e tipo de escola (pública ou particular) também influenciaram os resultados, com desempenho superior em escolas particulares, possivelmente devido a diferenças socioeconômicas.
Efeito Flynn Não Observado
Contrariando a expectativa de aumento nas pontuações ao longo do tempo, conforme descrito pelo efeito Flynn, o estudo não encontrou ganhos significativos entre 2003 e 2018. Em algumas faixas etárias, houve até pequenos decréscimos, especialmente entre meninas nas idades de 7,1 a 7,5 anos e 9,6 a 10 anos (figura masculina) e meninos nas idades de 7,6 a 8 anos e 9,6 a 10 anos (figura feminina). Esses resultados sugerem uma estabilização nas pontuações, alinhando-se a estudos internacionais que questionam a continuidade do efeito Flynn.
Relevância de Angela Virgolim
Angela Mágda Rodrigues Virgolim, referência em testes de QI no Brasil e uma das autoras do estudo, trouxe sua expertise para a pesquisa. Com longa trajetória na área, Virgolim é reconhecida por suas contribuições à psicometria, sendo uma das pioneiras no estudo de instrumentos de avaliação cognitiva no país. Sua participação reforça a credibilidade do estudo, que também contou com pesquisadoras de instituições como a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT).
Implicações e Futuro
O estudo destaca que o DFH é uma ferramenta confiável, mas recomenda seu uso como triagem, complementado por outros testes psicológicos, devido a limitações na avaliação de diferentes componentes da inteligência. Os autores sugerem pesquisas futuras com períodos de comparação mais largos e a inclusão de grupos clínicos para verificar a sensibilidade do DFH em casos de deficiência intelectual ou transtornos de aprendizagem. Além disso, apontam para a necessidade de atualizar normas a cada 15 anos, conforme diretrizes do Conselho Federal de Psicologia, considerando o impacto crescente de tecnologias digitais no desenvolvimento infantil.
Com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Técnico e Científico (CNPq), a pesquisa reforça a importância de estudos contínuos para garantir a validade de instrumentos psicológicos em um mundo em rápida transformação.