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Artistas buscam adaptação em dias de pandemia

Com a pandemia, profissões precisaram se reinventar para se adaptar a esse novo formato, mas existe um que sofre desde antes do isolamento: a arte. Produtores artísticos contam que o impacto negativo foi inevitável pois foi um dos primeiros setores a ser interrompido pela sua natureza de apresentações que envolvem contato com o público.  

O produtor artístico Douglas Menezes relata que o impacto, de início, foi negativo, mas que após uma readequação feita, ele conseguiu perceber o impacto positivo de poder maturar melhor seus projetos. “Esse impacto se tornou mais positivo no sentido de me permitir ter mais tempo de qualidade para lapidar o como e o porquê de destrinchar esse meu propósito de habitar o mundo através da arte. Nos “tempos de 2019” para trás, a famosa “correria” era usada como pseudo justificativa para desvalorizar a qualidade das nossas ações e atenções a projetos que aparentemente sempre ocorriam nesse lugar de nunca se ter um tempo ideal de maturação e execução do mesmo e até certo deleite sobre o ofício”, comenta. “A arte, para mim, é literalmente o sentido da vida”, explica Douglas Menezes

Douglas Menezes, produtor artístico, detalha os impactos da pandemia na arte (Reprodução: Instagram)

Assim como Douglas, os efeitos da quarentena foram similares para a produtora artística Karen Monteiro e para a artista Laura Tonini. Para Karen, alguns projetos foram adiados, outros interrompidos e, aos poucos, ela diz que está reprogramando essas ações para o próximo ano com todas as medidas de segurança. Para Laura, o impacto foi total pois em casa é muito difícil ter espaço físico para se mover e criar, porém a criação mais intelectual houve avanço.

Com o isolamento social, o consumo de arte e entretenimento aumentou de forma drástica. Cantores e bandas começaram com o movimento de lives pelo YouTube e outras plataformas durante o pico da primeira onda no Brasil em maio. Grupos artísticos, como o grupo de dança renomado Grupo Corpo, liberaram de forma gratuita performances antigas para que o público pudesse assistir. Houve produções audiovisuais adaptadas que foram gravadas durante a quarentena, como a série “Feito em Casa”, da plataforma Netflix.

Adaptação para quatro paredes

Cada artista e produtor se adaptou de forma diferente, porém eles acharam um ponto comum entre si que foi aproveitar o tempo de isolamento para aprofundar os estudos teóricos sobre arte. “Eu decidi investir nisso, deixei a dança vir quando ela queria vir e não fiquei me culpando ou cobrando isso. Foquei em estudos mais teóricos, cursos e sistematizei meu trabalho. Eu entendo o teórico e o prático como algo construído junto”, explica Laura.

Douglas seguiu um caminho similar ao de Laura e focou nos estudos teóricos durante o tempo de isolamento. “Por mais que isso, a priori,  não me desse o retorno financeiro necessário que o cotidiano anterior me supria, a minha adaptação foi estudar, cada vez mais e mais alternativas e estratégias, para não só me reinventar nesse momento presente, como que no futuro próximo poder me reposicionar no mercado de maneira mais expressiva e nutrido do conhecimento. Conclui um curso de Marketing Digital, outro de Direção de Produção”, relatou o artista.

A palavra-chave de adaptação para Karen foi criatividade. A produtora diz que foi necessário transformar as ideias e, principalmente, suas execuções pelas limitações de estar em casa. “O foco foi aproveitar a ferramenta da internet, que do dia pra noite se tornou essencial, e buscar através dela manter o contato com as pessoas – sejam público, estudantes, profissionais. Nesse contexto, as lives musicais, visitas virtuais à museus, transmissão gratuita de óperas e musicais foram uma forma de manter o pensamento ativo, às discussões em dia, manter o estudo e também manter as pessoas seguras em casa – garantindo a quarentena e a segurança de quem precisou continuar trabalhando fora.”

Karen Monteiro, produtora artística, relata como foram feitas as mudanças para a arte dentro de casa.  (Reprodução: Instagram)

Um novo olhar

Assim como Karen diz, a pandemia somente reafirmou o que já era sabido, que é a importância da arte e da cultura no nosso desenvolvimento humano. O consumo de arte durante a pandemia aumentou pois arte é música, dança, filme, série, e todos estes foram alternativas de distração ao passar dias e dias dentro de casa. As pessoas também aproveitaram do tempo em casa para poder tentar hobbies novos, como desenho e pintura para a manutenção da saúde mental.

O que os produtores esperam é que a população tenha criado uma sensibilidade maior em relação a arte e que percebam a cultura como elemento fundamental da vida e primordial para a qualidade de vida, saúde mental, desenvolvimento econômico e desenvolvimento social. “A minha esperança é de que a visão das pessoas ao meu redor que não valorizavam e entendiam o lugar da arte como um lugar de acesso a humanidade, tenha se sensibilizado mais e permitido diminuir esse distanciamento e desvalorização desse objeto que tanto contribui para a sanidade da sociedade ao longo dos séculos”, confessa Douglas.

Como produzir

O processo de produção artística varia pois há muitos pontos envolvidos, como a proposta do projeto, a equipe envolvida e até mesmo o estilo do artista em questão. A produção se assimila a de outros projetos pois existe a etapa de criação, desenvolvimento e execução que é de praxe. Porém, o que a diferencia é seu resultado final é feito pela arte, seja por apenas entretenimento ou para um projeto de aulas e cursos voltados para a área.

Douglas explica que esse processo começa com a identificação da demanda de determinada região que tenha necessidade de através de ações culturais se desenvolver, se unir, de acordo com sua finalidade: entretenimento ou de cunho formativo e educacional. Após traçar esse objetivo inicial, aí que entra a equipe de produção que vai analisar as possibilidades do que pode ser feito dentro da necessidade, como festivais, debates, palestras, shows, mas também centralizado e coordenando toda a equipe necessária para que cada projeto possa ser realizado da melhor maneira possível e deixar por onde passar o seu legado através da arte.

Portas para novos projetos

Para Laura, a arte é uma forma de expressão e que com a pandemia, ela ficou ainda mais pulsante no seu fazer e viver arte. Com o otimismo ao seu lado, ela relata que aproveitou a quarentena para iniciar um projeto que estava engavetado a anos chamado “Corpo Somático”.

“É um curso de improvisação em dança, somática, anatomia experiencial e escrita cinestésica, para trabalhar a sua relação consigo, com o espaço e com o outro. Temos materiais complementares e 3 módulos: “Rio, em mim”; “Leito, no rio” e “Encontro dos rios”. Os módulos 1 e 2 aconteceram online e tiveram 2 turmas, porém o módulo 3 precisa ser presencial”, explica a artista. O curso atualmente está em pausa pois ela tem a intenção de trabalhá-lo de forma presencial.

A artista Laura Tonini aproveitou da pandemia para iniciar seu projeto, “Corpo Somático”. (Reprodução: Tayla Fotografias)

Para Douglas, a arte é o sentido da sua vida. “Toda vez que tenho que parar para pensar, eu não consigo imaginar em nenhum ‘cenário ideal’ da minha existência se não fosse de alguma maneira afetada e nutrida por toda essa subjetividade que a arte pode representar para cada indivíduo. Para mim é pulso, é fonte inesgotável de propósitos para seguir adiante nessa experiência cotidiana temos apenas o tempo de alguns poucos anos para tentar descobrir o que para mim seria como ser a melhor versão de você mesmo e como de certa forma perpetuar para além desse tempo alguma mensagem ou obra que de certa maneira ainda assim afete e nutra todos que tiverem contato com ela de alguma maneira evolutiva.”

Ele foi outra pessoa que aproveitou desse momento turbulento para dar o pontapé inicial de um novo projeto. Douglas implementou o Instituto Saber Amar (ISA) uma OSC, Organização de Sociedade Civil que é a promoção de projetos sociais que tenham finalidade pública, que visa acolher pessoas em situação de vulnerabilidade que não tem acesso à tratamento psicólogo contra e depressão abarcando principalmente pessoas dos movimentos LGBTQIA+ e Negro e mulheres.