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Mais um pioneiro brasiliense perde a luta para a Covid-19

Prestes a completar 61 anos, Brasília perde mais um de seus pioneiros que ajudou a construí-la. Trata-se do goiano, de Pires do Rio, Orédio Alves de Rezende, empresário, fazendeiro e proprietário da primeira rede de autopeças da cidade – a Induspina Autopeças, que abriu as portas na antiga Cidade Livre, antes mesmo (em junho de 1958) da capital ser inaugurada, e segue de portas abertas até hoje na 514 Sul.

Orédio, que vinha lutando contra dois cânceres (linfomas nas células do manto e na bexiga), foi diagnosticado com Covid-19, há cerca de dois meses. Passou todo o período de incubação do vírus em casa até que começou a sentir dificuldade de respirar. Foi hospitalizado há cinquenta dias, no Hospital Alvorada, na Asa Sul, onde precisou de UTI por diversas vezes. Morreu hoje, às 6h30, em função de problemas pulmonares.

O empresário teve sua vida contada no filme lançado em outubro de 2019 – “O Legado de um Pioneiro”. O documentário foi dirigido por Rafael Pires e concebido, roteirizado e produzido pelo filho do protagonista, o jornalista Flávio Resende. Disponível no Youtube, o filme pode ser assistido por meio dos links: https://youtu.be/qRf73NTy7l4 e https://youtu.be/7R4VAqkeAbA .

Na oportunidade do lançamento do filme, Orédio recebeu, ainda, o Título de Cidadão Honorário de Brasília, concedido pela Câmara Legislativa do DF, proposto pelo deputado Daniel Donizet (PSDB-DF).

Sobre a empresa – Pouca gente sabe, mas há empresas em atuação no Distrito Federal, nascidas aqui, mais antigas do que a própria capital. É o caso da Induspina Autopeças, que em junho completou 63 anos de mercado, tendo sido líder em seu segmento, com cinco lojas, por mais de duas décadas (1970 e 1980).

À frente da empresa esteve o pioneiro Orédio Alves de Rezende, que chegou em Brasília, vindo de Anápolis (GO), em 1957, com a missão de abrir na Cidade Livre o braço (no setor de autopeças) do Grupo Pina, organização goiana em que trabalhava desde os 17 anos, como faxineiro.

Com a posterior ajuda dos sócios Sebastião Feliciano, Antônio Delgado Torres (in memorian) e do irmão mais velho Omélio Alves de Rezende, o jovem Orédio, na época com 22 anos, deixou família e amigos, agarrando-se ao que viria a ser a maior oportunidade de sua vida, capaz de tirar a sua família do estado de privação econômica em que se encontrava à época.

Em 2001, o empresário foi reconhecido e agraciado na primeira edição do projeto Mercador Candango, realizado pela Fecomércio-DF.

O trabalho como alicerce – Filho e irmão de hansenianos, Orédio viu o pai e o irmão serem levados de casa para uma “Colônia de Leprosos”, em Goiânia, aos sete anos. A partir daí, passou a ser “o homem da casa”, ajudando a mãe, pobre e semianalfabeta, a sobreviver e a criar a irmã, cinco anos mais nova.

Pioneirismo – Ao falar no crescimento de Brasília ao longo de 60 anos de existência, é impossível não mencionar a importância de empresários que resolveram abrir seus negócios antes mesmo da nova capital estar pronta. Eles investiram e acreditaram na cidade, desempenhando um papel fundamental para o desenvolvimento econômico e social da nova capital. Diversas empresas se instalaram, principalmente, na antiga Cidade Livre, que recebeu boa parte dos candangos que saíram de diversas localidades do Brasil para tentar uma vida melhor. A trajetória dessas empresas se confundem com a própria história de Brasília. Participaram efetivamente da construção da nova capital e ainda continuam contribuindo para o desenvolvimento da cidade.

A Induspina nasceu em 1948, em Anápolis. Dois anos antes da inauguração da atual capital do país, abriu uma filial no DF. Criada pela tradicional família Pina, do Estado de Goiás, que possuía diversos negócios na região, a Induspina tinha matriz em Anápolis e unidades em Goiânia, Ceres, Goianésia e, por último, em Brasília.

As dificuldades foram muitas. O então vendedor (Orédio) deixou escola, amigos e familiares para assumir o cargo de gerente, em um lugar inóspito, onde tudo estava começando. Naquele tempo, apenas duas empresas atuavam no ramo de autopeças em Brasília: a Induspina e a Autopeças Moreira. Teve que enfrentar diversos obstáculos. O principal deles era a falta de uma comunicação mais ágil. “Várias peças vinham de São Paulo e, às vezes, demoravam quase um mês para chegar. Hoje temos Internet. Tudo é muito mais rápido e contamos com uma logística bem mais ágil e eficiente”, afirmou.

Em 1964, finalmente, os sócios da empresa ofereceram a Orédio uma participação nos negócios, proposta que aceitou prontamente. No início, chegou a fornecer produtos para todas as construtoras e empresas que trabalharam na construção de Brasília.

Orédio costumava dizer que um dos fatores que determinaram o sucesso e a longevidade de seu negócio foi a persistência, não apenas dele, mas de seus sócios (Sebastião, Antônio e Omélio). “Eu diria que nossa perseverança e coragem para o trabalho fizeram a diferença. Fico orgulhoso, após todo esse tempo e as dificuldades que enfrentamos, em saber que a minha empresa ainda tem credibilidade, que é reconhecida pela seriedade e bom atendimento. O respeito que temos de todos que trabalham conosco e do consumidor nos motiva a continuar”, disse, várias vezes, antes de morrer.

Orédio Rezende Deixa a esposa Ana Rosa Silveira, os filhos Regina Célia, Bruno e Flávio Resende, além de netos, bisnetos e muitos amigos.

O velório está marcado para amanhã, dia 6 de abril, a partir das 13h, na Capela 6, do Cemitério Campo da Esperança. O sepultamento ocorre às 15h30