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Racismo: esportistas revelam casos de preconceito

“Se você é negro, falam muito do seu físico, do tanto que você corre, que pula, mas esquecem que você é inteligente, que você entende o jogo, que tem outras qualidades” afirma. A opinião é do jogador de basquete Paulo Conceição,  do Cerrado Basquete. Ele diz que, embora nunca tenha sofrido algum ataque direto, reconhece que passou por situações que poderiam estar classificadas como racismo estrutural.

“É numa fala, numa atitude, numa piada, numa maneira de falar; são coisas que já estão na nossa sociedade, que é uma sociedade preconceituosa, e que nós acabamos nos acostumando, isso sim tem que mudar”, afirma.

Paulo questiona, ainda, sobre os cargos ocupados por negros nos times. Para ele, existem, sim, muitos jogadores nos clubes, mas é raro pessoas de pele negra ocuparem cargos maiores, como dirigentes e comandantes dos times.

Vôlei

Alessandra dos Santos, do Brasília Vôlei, começou a praticar o esporte aos 9 anos, tendo como inspiração uma prima que também era jogadora. À época, a maior dificuldade de Neneca, como é chamada, foi a falta de condições para participar dos treinos. Ela contou com a ajuda de seus técnicos no Tijuca Tênis Clube, onde iniciou sua carreira, para seguir o sonho de se tornar uma profissional na área.

Mesmo após conquistar o seu sonho de ser jogadora, Alessandra ainda enfrentou dificuldades, e dessa vez ligadas a sua cor de pele. Negra, ela conta que já vivenciou o preconceito dentro dos esportes.

Logo no início da carreira, a jogadora sofreu com questionamentos feitos pelo pai de uma de suas colegas, que não aceitava o fato dela ser escalada para o time e a filha não, sempre tentando envergonhá-la. “Ele tentou, mas não conseguiu, porque havia pessoas que brigavam por mim”.

Hoje, profissional no esporte, Neneca vem de uma carreira sólida na Superliga, com passagens no Sesi-SP, Fluminense, e, agora, no Brasília Vôlei, com médias de 2,66 pontos por set e 60% de recepções na temporada atual.

Ex-administrador do Bezerrão, Alexandre dos Santos acredita que a representatividade das pessoas negras nos esportes ainda é uma questão complicada e, como atleta da capoeira, vê que é tudo mais difícil. Segundo ele, os negros se destacam nas lutas, mas param de competir por causa de apoio e ressalta que se tiver um branco e um negro disputando um patrocínio, o branco leva a melhor.

Foto: arquivo pessoal

Trote, como é conhecido, também afirma que os negros que conseguiram sucesso podem começar a auxiliar aqueles que ainda precisam e completa dizendo: “O negro precisa de oportunidade pra mostrar seu potencial”

Ele relembra, ainda, um episódio que vivenciou enquanto administrador do estádio Bezerrão: “teve uma vez uma equipe de eventos que foi ao estádio fazer visita para realizar um grande evento. Me lembro que acompanhei essa equipe e uma mulher muito bem vestida me olhava de forma diferente (tipo deboche), mantive minha postura e continuei mostrando o estádio. Ela achou que era o vigilante do local e me pediu para chamar o responsável do estádio”.

Educadamente, Alexandre disse que era o responsável e ela poderia perguntar o que quisesse em relação ao estádio e detalhar quais seriam os meios de solicitar o uso do estádio. “Ela, meio sem graça, levou uma cutucada de uma colega dela”.

Por Arthur Vieira e Rayssa Loreen

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira