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Ceratocone: porque coçar os olhos pode ser um problema?

Você sabia que coçar os olhos pode prejudicar a visão? Essa ação simples, às vezes involuntária, pode favorecer o desenvolvimento de uma doença ocular que é uma das principais causas de transplantes de córnea no mundo: o ceratocone. Com relativa frequência, a doença afeta a córnea, o tecido transparente que fica na frente do olho como uma lente e é responsável pelo foco das imagens. Para funcionar corretamente, a estrutura precisa de dois requisitos: transparência e curvatura adequada. Em pacientes com ceratocone, a córnea gradualmente se afina, curvando-se para a frente do olho, assumindo a forma de um cone. Essa distorção da curvatura produz alterações visuais, principalmente astigmatismo e miopia.

Números do Sistema Nacional de Transplante de Órgãos (SNTO) mostram que 23.946 pessoas (nas redes pública e privada) aguardam por cirurgia de córnea – número que quase dobrou em relação a 2019, quando 12.212 brasileiros estavam na lista de espera. Segundo o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), 20% dos transplantes no país são decorrentes do ceratocone. Para chamar a atenção para o tema, em 2018 foi lançada a campanha Junho Violeta, que visa conscientizar sobre o diagnóstico da doença e a importância de seu acompanhamento e tratamento. “O ceratocone é uma doença prevalente na população e está muito associado à alergia, ao hábito de coçar os olhos. Além disso, há um componente genético relacionado. Atualmente dispomos de diversos métodos, tanto para interromper a progressão da doença como para melhorar a curvatura e a visão do paciente”, afirma o oftalmologista Pedro Bertino, especialista em Córnea e Ceratocone do Hospital de Olhos INOB, empresa do Grupo Opty.

A doença geralmente se inicia na infância ou adolescência e tende a se estabilizar por volta dos 30 anos. Entretanto, há grande variabilidade relacionada à idade de início, à velocidade da piora e também a sua estabilização. Apesar de indolor, alguns sintomas são característicos, como a presença de erros de refração (miopia e astigmatismo alto geralmente), visão turva, sensibilidade à luz, diplopia (visão dupla) e dificuldade de enxergar em ambientes com pouca luz. De acordo com a Corneal Research Foundation of America, a doença afeta aproximadamente 50 a 200 em cada 100.000 pessoas no mundo.  Dados do Ministério da Saúde mostram que 150mil brasileiros sofrem com o problema todos os anos. As principais causas do ceratocone são fatores genéticos e o “inocente” hábito de coçar os olhos. No Brasil, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 35% da população sofre de algum tipo de alergia e sete em cada dez sofrem de alergia ocular. Portanto, as pessoas alérgicas precisam ser mais cautelosas e procurar acompanhamento com um especialista. “O hábito de coçar leva a um estresse mecânico crônico e pode acelerar a progressão do ceratocone. Então, fica o alerta: evitar coçar os olhos pode prevenir muitos problemas no futuro” , ressalta o médico.

Para melhorar a visão de um paciente com ceratocone em casos iniciais, óculos e lentes de contato gelatinosas são suficientes. Para casos moderados há a necessidade de cirurgia com implante de anel intracorneano (prótese colocada dentro da córnea), o que pode alterar a curvatura de forma minimamente invasiva, com resultado rápido e com risco baixo. As lentes de contato rígidas são uma opção para tratamento de ceratocones em quase todos os estágios, com exceção de ceratocones muito avançados. “As lentes evoluíram bastante e alguns desenhos hoje em dia conseguem recuperar a visão de casos muito severos, como por exemplo  as lentes esclerais e semiesclerais”, assegura.

Pedro Bertino explica que quando é constatado o avanço da doença, o médico costuma optar pelo crosslinking, um procedimento que dura em torno de 20 minutos e que realiza uma modificação química das ligações de colágeno da córnea, conseguindo parar a evolução com pequeno índice de complicações. “Outra alternativa é o transplante de Bowman, em que uma camada de colágeno é inserida no meio da espessura da córnea do paciente, causando a interrupção do avanço da doença e, também, em alguns casos, uma leve melhora da curvatura”, acrescenta ele e observa que, nos casos mais graves, muitas vezes é necessário o transplante de córnea para recuperar a visão. “Se essa for a situação, o ideal é o transplante do tipo lamelar anterior, ou seja, um procedimento em que apenas uma parte da córnea é substituída. Esta cirurgia tem índice de rejeição e outras complicações muito baixos”, diz o oftalmologista.

Além de melhorar a visão do paciente, os médicos também devem tomar cuidado para impedir a progressão da doença. Para detectar isso, exames regulares de topografia da córnea com um oftalmologista são necessários. “Para tratar um ceratocone hoje, existem vários tratamentos disponíveis, todos com o objetivo de prevenir a progressiva perda da visão e promover a reabilitação visual. A correta identificação do problema possibilita avaliar a evolução e planejar o melhor tratamento para cada caso”, finaliza o Dr. Pedro Bertino.