Paratletas de tiro com arco comemoram vitórias em campeonato brasileiro

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Fabiola Dergovics é um dos destaques da modalidade. Fotos de Sara Meneses/ Agência de Notícias UniCEUB

Os paratletas Anne Pacheco (MG), 31 anos, e João Ivison Carneiro Silva (PE), 34 anos, foram os principais destaques no último domingo (6) da 12ª edição do “Para Campeonato Brasileiro de Tiro com Arco”. O evento foi realizado no clube do Exército, em Brasília. A par dos medalhistas, o evento é considerado uma vitória de todos os participantes que chegaram até ali. O campeonato é considerado a principal competição paralímpica da modalidade no Brasil

Até a vitória, eles superaram duas etapas. Na primeira, ocorre um round qualificatório e, no segundo, há os combates em que os recém classificados se enfrentam até chegar nas finais. O técnico da ATICA Df, Christian Haensell, relata que grandes mudanças ocorreram desde o começo “A principal diferença é a quantidade de paratletas; em 2005 tínhamos cinco paratletas no Brasil inteiro. Já hoje, esse campeonato está com 25 atletas participantes, dos, aproximadamente, 30 paratletas brasileiros atuais.”

Entenda as regras. O atirador Luciano Rezende, atleta de Brasília, explica detalhes do esportes
(Vídeo produzido pelo Ministério dos Esportes)

 

Ele também explica como o  tiro com arco modifica a vida de um paratleta “Em geral, o esporte é benéfico para qualquer pessoa. No caso dos paratletas é um esporte de muito integração, já que o alvo é o mesmo (70 ou 50 metros) o paratleta pode atirar tanto contra o de categoria paralímpica quanto o andante da categoria olímpica. Então, é possível ser campeão brasileiro paralímpico e olímpico, como é o caso da Jane Karla, a top brasileira nas duas modalidades, e a número dois no ranking mundial paralímpico.”

Ajustes

As adaptações para os paratletas não são muito especiais, até mesmo as que os próprios atletas usam. No caso do cadeirante, utiliza a cadeira de rodas com um pequeno ajuste para dar mais estabilidade. Também existem alguns critérios de regras, com a altura do encosto e do apoio lateral da cadeira, e dependendo do tamanho da lesão é possível o uso de faixa para sustentação. Agora no caso dos atletas que precisam de apoio, é utilizado um banco e se atira sentado. As demais são adaptações específicas de cada paratleta.

Os destaques Luciano Rezende e Thais Carvalho exibem novo tiro. Foto Sara Meneses

Atletas

Cada atleta apresenta uma história de uma vida diferente, mas todos têm algo em comum que é a paixão pelo tiro com arco. Para eles, o esporte foi um meio de recomeçar, se autoconhecer e um desafio para superar. Atualmente os polos de treinamento mais reconhecidos no Brasil são Goiás EC (GO), ATICA (DF), Palmeiras (SP), Esperia (SP), Italo (ES), PIC (MG) e CSP (MS).

Vitórias

Equipes mistas da Atica com Luciano Rezende e Thais Carvalho e da Esperia com Fabiola. Foto: Sara Meneses

As finais de domingo se iniciaram com a categoria Open Feminina Composto e teve como medalha de ouro a atleta Anne Pacheco, 31 anos, que conta um pouco da sua jornada. “Eu descobri o tiro com arco assistindo na televisão, nas Olimpíadas de Londres, e logo achei o esporte muito interessante. Depois comecei procurar em Belo Horizonte, onde eu moro, um lugar para a prática e após realizar um aula experimental, eu me apaixonei.” Ela também fala sobre a sensação de vitória do Para Campeonato “É uma sensação muito boa e satisfatória, a gente treina bastante e esse ano eu me senti muito bem preparada e consegui realizar tiros mais certeiros. O que resultou na vitória da competição”.

Outro nome importante da modalidade é a bióloga e atleta paralímpica Fabiola Dergovics, 50 anos, que garante que o esporte é fundamental na história dela. “Nunca consegui viver sem, não sei funcionar direito sem ele. Antes eu participava do voleibol e da corrida, fiquei como 34° na São Silvestre por categoria. Bom, eu já fazia tiro com pistola e com o acidente eu tive uma fratura na coluna lombar e vértebra rodada no pescoço, o que fez com que eu tivesse restrições nos membros superiores e inferiores e também a perda de grande parte dos movimentos da perna direita. Depois disso  comecei a observar o que funcionava dos meus membros superiores e busquei um esporte desafiador. Toda essa trajetória me trouxe, hoje, ao tiro com arco”.

A competição é repleta de momentos de muito suspense. No caso de empate entre dois competidores é a “Flecha de Morte”  quem define o ganhador. Nesse caso, uma única flecha é lançada, o competidor que chegar mais perto do ponto X, o centro, leva a vitória. A primeira flecha da morte das finais do campeonato foram entre os paratletas João Ivison e Andrey Castro. E teve como resultado a vitória de João Ivison Carneiro Silva, 34 anos, que comemorou com muita euforia e foi recebido com muitos abraços por toda a equipe e amigos.

“O campeonato foi show demais e muito emocionante. Eu comecei perdendo, e no quarto set eu consegui empatar, o que levou a flecha de morte. Acabei acertando o ponto X, o centro, o que me deu a vitória.”

A história de João Ivison começou a um ano e meio atrás quando decidiu se dedicar ao esporte. “Eu jogava basquete de cadeira de rodas, só que basquete não depende só de um, e sim de um time. E se um não treina, eu não treinava, por ser coletivo. Então procurei uma modalidade que só dependesse de mim e foi assim que eu comecei com o arco.”  

Para praticar

Em Brasília, o espaço está sob o comando da  Federação de Tiro com Arco do Distrito Federal (Fetarco-df) e existe uma taxa de uso de campo. Então, em caso do atleta já saber atirar e possuir o material, só é preciso ir no Clube do Exército e conversar com a Federação. Após ser realizado uma avaliação dos conhecimentos do participante é feito um contrato para o uso do local.

No caso dos interessados serem iniciantes, é possível ser realizado um curso com a escolinha de tiro com arco da federação. O curso é feito uma parte introdutória com uma aula semanal e possui um custo. Após o curso básico o atleta pode utilizar o espaço e continuar o treinamento sozinho ou entrar em acordo com algum instrutor e continuar as aulas, de duas à três vezes na semana mediante ao pagamento para o instrutor. Saiba mais informações sobre a modalidade aqui.

Histórico de conquistas

 

Nos jogos Parapan-Americanos de 2015 houve um alto destaque dos competidores brasileiros. Ganharam duas medalhas de ouro, uma medalha de prata e dois quarto lugares, conseguindo assim o primeiro lugar do quadro de medalhas do tiro com arco.

Nas Paralimpíadas Rio 2016, o Brasil fez história. Por ser a primeira participação nos jogos, os resultados foram surpreendentes. 3 (três) atletas brasileiros chegaram a 5° (quinta) posição e um atleta disputou a medalha de bronze em sua categoria, o recurvo masculino, com Luciano Rezende, atleta de Brasília.

Os polos de treinamento mais reconhecidos no Brasil são : Goias EC (GO), Atica (DF), Palmeiras (SP), Esperia (SP), Italo (ES), PIC (MG) e CSP (MS).  Apenas os atletas que chegarem a uma das três posições mais altas do pódio nas principais competições nacionais e internacionais recebem a “bolsa atleta”.

Sem diferença

Há um fato bastante curioso no tiro com arco. Não há mudanças de regra ou diferenças na competição de atletas paralímpicos e olímpicos, o alvo é o mesmo (70 ou 50 metros), podendo então haver disputas entre atletas paralímpicos e olímpicos. Apenas necessitando de adaptações materiais de acordo com cada lesão.  

Por Sara Meneses e Gabriel Ferraz

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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